Conhecer-nos para aprender a lidar com os outros. É isso que defende a analista comportamental Daiane Altmann. Há um ano, ela descobriu o potencial do autoconhecimento para mudar vidas, e decidiu tornar esta, sua área de atuação. “Tudo começa por conhecer o seu perfil, identificar as suas características e como reage a cada tipo de situação. A partir daí é possível definir as estratégias adequadas para cada situação”, conta ela. Essa técnica é importante tanto para o desenvolvimento profissional como pessoal.
Ainda jovem, Daia sentiu as dificuldades da falta de autoconhecimento ao não se localizar em nenhuma área de atuação que tentou. “Quando sai do ensino médio, não sabia o que queria, o que gostava. Comecei três graduações e não conclui porque em nada eu me encaixava”, relembra ela. Ainda, costumava desejar portar características de outras pessoas, as quais sentia falta em si. As portas se abriram quando ela e o marido, Henrique, realizaram um treinamento em Porto Alegre sobre autoconhecimento. “Foi a virada de chave da minha vida. Todas as frustrações que eu tinha, da Daia de antes, acabaram porque eu descobri como eu era boa em muita coisa, e que minha conexão com as pessoas iria me ajudar em muita coisa”, explica.
Os traços que definem a personalidade de cada pessoa podem ser facilmente identificados, mas nem sempre se tem noção e como eles influenciam nas relações cotidianas. “O autoconhecimento é determinante para que se consiga estabelecer bons relacionamentos e melhorar a satisfação e os resultados nas diferentes esferas da vida. O mesmo conhecimento permite ampliar o olhar sobre o outro, diminuir sofrimentos e construir relações mais sinceras e promissoras”, conta a especialista.
Segundo ela, quando há o autoconhecimento, há um caminho para o sucesso. Nesse processo, a flexibilização é a palavra-chave. “A gente tem que se adaptar e flexibilizar. Flexibilizar é o sucesso de qualquer relacionamento”, enaltece. Por isso, não é a análise de perfil por si, a solução dos problemas, “mas uma luz no fim do túnel”.
Quatro tipos de perfis
Em seu teste de perfil, Daia Altmann se enquadra como uma pessoa do perfil Influente. “Eu me conecto fácil com todos, preciso conversar porque preciso me conectar e sentir. O nosso comportamento é conforme o nosso perfil”, analisa ela. Contudo, segundo Daia, ela não vivia o perfil influente como poderia. “Eu estava vivendo um perfil adaptado. Tem gente que passa a vida no adaptado para agradar os outros”, explica.
Na técnica da análise de perfil, há a teoria DISC, usada mundialmente no estudo do comportamento humano. Ela classifica quatro tipos de perfis possíveis: O dominante, o influente, o estável e o conforme. O relatório da análise apresenta o que considera o perfil natural e o perfil adaptado da pessoa. Segundo a especialista, as pessoas já nascem com o perfil predominante, e até os sete anos, ele é desenvolvido. “Todos temos os quatro perfis. Até os sete anos, o perfil predominante se desenvolve e dá ‘sinais’”, explica Daia.
Ela explica que a timidez, insegurança e até, ousadia, podem ser sinais do perfil da criança. “Às vezes uma criança é um pouco birrenta, mas não é, ela já tem o perfil dominante dela”, exemplifica a profissional. “Como os pais não entendem, eles não sabem como identificar, e muitas vezes a criança é taxada como mal educada”, bem como os adultos também podem ser mal interpretados ao apresentarem seu perfil.
Posteriormente, perfil natural não é mutável, mas as pessoas podem se adaptar para se encaixar em determinados perfis. Ao modelar outro perfil, tem-se o perfil adaptado, que é como a pessoa se apresenta na sociedade. “Ela acaba se modelando em outro perfil, mas algum dia, ela não aguenta”, preocupa-se ela.
Sobre esta formação de perfil, ela explica que alguns pais têm dificuldades com os filhos na questão comportamental por não conhecerem o perfil dos filhos. “É importante identificar o perfil dos filhos para ter a forma certa de lidar pra eles”, explica. O adolescente dominante, por exemplo, tende a bater de frente com os pais e não aceita “nãos” e quer decidir por si. “Para ele, dá-se alternativas que serão boas para os pais, mas que o poder de decisão fique para ele, pois ele odeia ser mandado”, exemplifica a especialista.
Enquanto Daia apresenta perfil Influente, seu marido apresenta perfil Dominante, e inicialmente, ela desejava ser como ele. “Tem casais que não conseguem se comportar com o seu jeito de ser na frente do companheiro por medo de demonstrar seu perfil com medo de ouvir uma crítica”, diz, situação que pode se repetir com família, amigos e outros. Com o estudo, descobriu que não há perfil melhor ou pior. “É importante saber do nosso perfil para saber o que fazemos melhor. Todos tem qualidades e pontos a desenvolver”, explica. Segundo ela, o casal aprendeu a se comunicar da forma certa. “Temos perfis diferentes, valores diferentes, motivadores diferentes, e aprendemos a nos entendermos e nos comunicarmos da forma certa”, desenvolve ela.
Nos negócios, conhecer perfis é importante para saber lidar com o cliente e oferecer o que ele almeja. Na prática, ela conta que há pessoas que são contratadas em empresas por ter ótimo currículo e demitidas por questão de perfil. “Imagina colocar um influente, que precisa se conectar com as pessoas, o dia todo no computador trabalhando com tabelas. Ele não vai fazer bem feito. Pode ter um perfil maravilhoso que não está na função certa”, exemplifica. Apesar dos perfis não serem mutáveis, ela explica que pode mudar o motivador das pessoas, ou seja, suas prioridades. Como exemplo, ela traz o poder, conhecimento, vitória e o altruísmo como possíveis motivadores de comportamentos.
Como acontece a análise
Em um primeiro momento, há uma conversa de cerca de duas horas onde se fala sobre o perfil, e posteriormente, é elaborado um relatório com as principais características. Após, pode ser feito um plano de ação. “A gente desenvolve o que precisa ser desenvolvido na área da vida em que a pessoa deseja melhorar, potencializamos o que a análise de perfil traz, o que tem te melhor, e desenvolve os pontos fracos”, conta a profissional.
A análise de perfil abrange várias coisas, como pontos a desenvolver, principais qualidades, medos, pontos fortes, motivadores, o estilo de liderança e outros. Para ela, todos os perfis carregam características de líderes, como solucionar problemas e boa conexão com pessoas, mas são jeitos diferentes de liderar. “Conheço uma pessoa estável que recebeu um convite para ser líder, mas não aceitou devido ao conflito, o desejo de ficar bem com todos, dificuldades de dizer não”, explica.
Segundo ela, é possível uma pessoa ter característica de dois e até três perfis, mas isso gera conflitos internos. “Imagina um Influente e Conforme, que quer se conectar com todos, mas o seu lado Conforme puxa dizendo ‘o que tu tá fazendo?’. Quem tem essa combinação de perfil deve sofrer muito, então nada melhor do que autoconhecimento”, afirma ela.
- Dominante – comando e iniciativa: Pessoa focada em resultados, que busca sempre alcançar os objetivos. Lidera por meio da autoridade. Muito determinada e sabe o que quer. É direto, decidido e rápido, quer as coisas do jeito dele. Quando há problemas, são procurados para resolver. Ele se desafia e gosta de solucionar. É tão dedicado que pode deixar o ambiente tenso. Caso for um líder, pode ser considerado grosso e os colaboradores podem ser tensos, e pode ter dificuldades das pessoas não seguirem o que ele quer.
- Influente – negociação e criatividade: Conecta-se com todos, faz amizade, gosta de conversar. Lidera por meio da conexão, mas pode acontecer de deixar-se influenciar. Ele sente a necessidade de se conectar. É criativo e busca coisas novas. Pode começar coisas e não terminar porque quer fazer várias atividades ao mesmo tempo. As vezes, fala demais e sem pensar.
- Estável – planejamento e cooperação: Planejador, gosta de rotina e é conciliador. É bom ouvinte e não quer atritos. Analisa tudo para depois poder se soltar. Tudo que for fazer, será muito bem feito. Tem muita dificuldade em dizer “não”.
- Conforme – qualidade e atenção: Crítico, perfeccionista, metódico. Tudo que faz é muito bem feito, enxerga detalhes que ninguém vê. Quer liderar tudo e tem dificuldade em delegar por medo de não ficar como ele faria. Pode ser chato às vezes porque se critica em tudo, vê o lado ruim de tudo, analisa todas as coisas. São discretos e não costumam falar sobre si