Escritora teutoniense lança livro de poesias ilustradas

Escritora teutoniense lança livro de poesias ilustradas

Pessoas e empresas podem ajudar no projeto de financiamento coletivo da obra

Uma forma de expressar sentimentos, ideias e opiniões. Um meio de desabafar e dialogar consigo e com o mundo. Transformar dor em arte é habilidade para poucos. E fazer isso através da escrita e do desenho é ainda mais raro. A professora de história apaixonada pela profissão, violinista e poeta de coração, Karina Meyer Braun, é uma das artistas. Por muito tempo ela hesitou em não compartilhar com muitas pessoas suas produções. Aos poucos, foi tomando coragem de abrir, desde as caixinhas com tickets de supermercado até requintadas folhas de desenho francesas.

A expressão de sua arte começou de forma simples, porém intensa. Enquanto trabalhava como empacotadora de supermercado, nos minutos vagos, ideias e sentimentos tomavam forma de poema no verso dos tickets deixados pelos clientes. Escrevia sobre o que estava sentindo e pensando.

“Escritos de alma, marcados pelas cicatrizes de viver: é disso que se trata este livro. A autora aborda com aguçada sensibilidade e crueza variados aspectos da vida, do estar no mundo, do (sobre)viver. A cada virada de página, um vendaval: as palavras dançam com leveza e fúria, extravasando urgências postas em verso e desenhos. As imagens aparecem como punhaladas, atravessando o olhar do leitor, desafiando, inquirindo, apontando feridas que o viver suscita. Nesse viés, a mim ocorre dizer, sem receios de equívoco: o texto de Karina é autobiográfico. As imagens, em complemento lindo e intenso, gritam os anseios, as lutas, as dores, as vitórias de seu cotidiano. E nisso, inclui o mundo! Visceral é leitura forte, aflita, ousada, ninho. “Fico comovida com tuas adorações às minhas partes quebradas – rasgadas” (p. 62), diz Karina. O leitor escolhe como quer ficar, ao sentir os ditos que derramam desta obra”, descreve Silvana Rossetti Faleiro, historiadora e professora em seu prefácio no livro.

Já a escritora Edilaine Cagliari descreve: “A primeira vez que meus olhos tiveram contato com a arte da Karina eu lembro bem. Olhei as imagens e os versos lado a lado, compondo juntos alguma coisa que me deslocou do tempo-espaço em que eu estava: a cafeteria se transformou em algum lugar silencioso e solitário, minha atenção ficou presa. Procuro até hoje entender, mas acho que isso aconteceu porque a arte dela é crua, e ainda assim cuidadosa nos detalhes. Às vezes me fere com o desenho e me ampara com o verso, às vezes faz o contrário. Me perco vendo uma coisa e depois a outra, e por fim as duas combinadas. Meu conselho para você é que deguste este livro em pequenas doses, para poder se deslocar do tempo-espaço em que se encontra e aproveitar essa sensação. Sim, porque o que você tem nas mãos é mais do que literatura, é uma experiência. Visceral!”

“Tem algo mágico no ato de escrever poemas e compartilhar poesia: ela te conecta. Ela te faz sentir. Ela revira suas vísceras, se moldando a partir de tudo que você viu, ouviu e sentiu. Das histórias com as quais você cruzou. E depois vai até o seu âmago, seu cerne. Ela te despe e te deixa ali. Nu e frágil. E ainda assim, ansiando por mais… E por estar nu e frágil, te trago apenas eu, e te deixo com este livro. Ele é uma das partes mais valiosas de mim. Eu a guardei por muito tempo na gaveta do meu peito, e agora você decide o que fazer com ela. Pense bem. Pense com amor, por favor”. Com estas palavras, Karina descreve a experiência do seu primeiro livro que está em produção e em processo de financiamento.

Estimulada pela mãe, que conseguiu estudar pouco, Karina aprendeu desde cedo a importância de estudar, ler e valorizar as oportunidades. Mas não era tão simples o acesso aos livros. A mãe diarista, como precisava trabalhar muito, fazia o que podia pela educação da filha. “Ela lia para mim de noite, mesmo às vezes pulando folhas porque não entendia ou tinham palavras difíceis”, conta com gratidão. Como não tinha condições de pagar uma cuidadora, comprava gibis para a filha ler. Assim foi surgindo o gosto pela leitura, tornando Karina frequentadora assídua, mais tarde, da Biblioteca 25 de Julho, em Languiru. Foi lendo e relendo as obras que ali estavam.

Lembrando das idas e vindas à biblioteca, Karina lamenta o fato de não ter mais esta possibilidade disponível aos estudantes e à comunidade. “Para minha formação enquanto leitora esta biblioteca foi fundamental”, expressa. Defende a reabertura e também ressalta que “Teutônia não é só canto coral, o município lê e escreve pra caramba e muito bem. Precisamos valorizar isso”, expressa, elogiando o projeto do qual participou em 2019, que reuniu escritos de mulheres da cidade.

A escritora conta que a adolescência foi uma fase complicada, trocou três vezes de escola, vivia situações desconfortáveis, tinha dificuldades em fazer amigos e socializar. Vítima do que hoje chamamos de bullying, o intervalo das aulas na escola também passou a ser mais confortável na biblioteca. E assim foi se formando uma leitora.

A leitura se tornou uma espécie de refúgio. “Quando você lê um livro, viaja, vive mil vidas diferentes, conhece outros lugares. Para a criança é algo extraordinário, contribui com este poder de imaginar as coisas. Infelizmente, quando se cresce, muito disso é perdido”, opina.

A escrita começou como uma forma de desabafar: “escrevia para me sentir bem aliviar pensamentos…” Foi também na época de escola que começou a desenhar. Foi uma maneira paralela de expressar as ideias. A poesia veio mais tarde. Ao ler poesia, começou a gostar e foi construindo seu próprio estilo, que foge ao padrão dos poemas românticos e clássicos. Através da poesia começou a defender valores importantes e construindo seu posicionamento e opinião sobre as coisas, construindo um estilo mais autoral.

Por um bom tempo seu trabalho ficou “escondido”. Seus primeiros escritos publicados foram em blogs e, posteriormente, em coletâneas. Publicou no “Escritos/escritores VI” pela Alivat em 2017; em “Palavras que brotam, florescem e inspiram” pelo concurso literário do Programa Mais Elas da rádio Popular FM em 2019; e no e-book “Travessias”, lançado pela Univates em 2020. Além disso, publica seu trabalho em sua página do Instagram @karinameyerbraun há mais de cinco anos e recita seus poemas em saraus e slams dos quais participa.

O LIVRO

A ideia de escrever este livro foi surgindo aos poucos e aflorou durante a pandemia. Para a leitora de gibis e frequentadora assídua de bibliotecas, os escritores se tornaram uma espécie de super-heróis, que admirava e com os quais viajava através da leitura. Ao conhecer a escritora Edilaine Cagliari (a Mana), esta visão mudou e percebeu que escritores podem ser pessoas comuns que escrevem sobre coisas, vivências e percepções. Após o lançamento de um dos livros da autora, que Karina devorou em menos de um dia, decidiu olhar para seus escritos.
Foi a convite da Editora Cartola, com incentivo da Mana, sua madrinha na escrita, que, durante a pandemia, começou a dar forma ao projeto, reunindo seus escritos e desenhos, com seleção das poesias ilustradas que integrarão a obra. A professora Karina viu na possibilidade de ser escritora uma forma de contar histórias e influenciar pessoas, fazer elas pensarem sobre coisas e diferentes temas, refletirem a partir do que leem. “O escritor tem um papel importante como educador”, afirma.

Quando começou a reunir seus escritos (em abril/2020), a surpresa de encontrar nove cadernos cheios de poemas ilustrados. Pensar num título foi outro desafio. “Como muitos diziam que os poemas eram viscerais, Visceral foi a primeira ideia, que ganhou corpo ao longo do trabalho”, explica.

O livro, que está em processo de revisão, é dividido em três partes: Vísceras, Âmago e Apenas eu. Em Vísceras partes das vivências que dizem muito sobre si. Como partes de um todo, vísceras trazem todos os tipos de experiências que pessoas podem passar. Também vivências que machucam e trazem dor. Âmago vai além das partes que compõem, traz explicações sobre o amor e o que fazer com o que fizeram com você. Falando sobre todos os tipos de amor, Âmago faz pensar sobre como a gente é amado, sobre lidar com tudo que pode acontecer. Na terceira parte, o leitor encontrará quase que uma carta da autora, em primeira pessoa, numa perspectiva que faz pensar. “São detalhes do que floresceu em mim, um convite para pensar”, expressa.

É um livro que fala de amor, dias felizes e dias difíceis, preocupações, causas fortes, como violências psicológica, física e sexual, abuso sexual contra mulheres, relacionamentos abusivos, questões de sexualidade, preconceitos, temas que requerem resiliência para lidar. “Sou mulher escrevendo, lésbica e professora. Só isso já traz um posicionamento que faz pensar, questões delicadas e pontuais que estão muito em voga no período atual, intensificadas por conflitos políticos que ocorrem em nosso desgoverno”, critica. A autora explica que, em resumo, o livro fala de coisas que podemos combater com amor e empatia pelo próximo. Uma luta que gira em torno do amor, de todas as formas de amor.

Sua luta maior

A sinopse do livro deixa bem evidente a luta central da artista. O amor está em pauta e presente em suas reflexões e expressões. “Agora na pandemia tivemos ainda mais clareza da importância do amor e da empatia. Precisamos ver que somos amados, sentir-nos amados e assim poderemos compartilhar carinho e gentileza. A obra traz a percepção sobre inúmeras experiências e vivências.

Escritor e o papel de educador

Como professora de história, hoje tem clareza do quanto só escritores têm poder enquanto formadores de opinião. “O escritor tem um papel importante como educador. A gente tem essa possibilidade de prender com nossas palavras. Poder contar histórias e influenciar pessoas, fazerem elas pensarem sobre coisas, refletirem a partir do que a gente escreve”, explica. E esta foi uma das coisas que lhe influenciou e motivou a compartilhar seus escritos, a possibilidade de dar voz às suas ideias e sentimentos, ajudar a transformar o mundo para melhor. Fazer refletir sobre coisas importantes. “Tem tanta coisa que nos dizem que é importante. Talvez a gente deveria pensar sobre o que é importante. Penso que meu livro vai contribuir para que se discuta sobre coisas que não são tão discutidas, mas que importam”, relata.

“A escola para mim era um lugar onde não queria voltar nunca mais. Agora é o lugar do qual não quero mais sair, porque eu tento ser para os alunos aquilo que eu queria que as pessoas tivessem sido comigo”, desabafa. Como professora, faz referência à importância de falar sobre questões que o conteúdo não cobre. “A gente tem duas formas de fazer o trabalho. Passar o conteúdo e pedir para os alunos copiarem ou discutir com eles sobre coisas, aprender, trocar e reconstruir”, explica, dizendo que teve professores maravilhosos que lhe inspiraram a ser a docente que hoje é. Entre as questões em pauta, o amor, todas as formas de amor e tudo que pode ser resolvido com amor.

Apoio à obra

Você sabia que pode ajudar autores locais e nacionais a publicarem suas obras? O sonho de escrever e publicar um livro se torna mais acessível com esta oportunidade. Editoras oferecem a possibilidade de publicação a partir de financiamento coletivo. O escritor trabalha sua obra, que é diagramada e preparada pela editora, enquanto o edital de financiamento público é aberto e pessoas e empresas podem participar. É possível doar valores, mas também fazer aquisições antecipadas da obra, ajudando assim a viabilizar a sua impressão. Esta é uma oportunidade de colaborar com um artista, incentivar a cultura e ser recompensado por isso.

Visceral, de autoria de Karina Meyer Braun, terá em torno de 150 páginas, com textos e ilustrações da própria autora.
A Editora Cartola abriu o edital através da plataforma de financiamento catarse e é possível ajudar com valores a partir de R$ 15,00 até o dia 14 de fevereiro. O acesso é pelo endereço catarse.me/souvisceral Há várias opções para auxiliar, variando a recompensa conforme cada valor: citação nos agradecimentos do livro, versão digital da publicação, livro impresso, marcador de páginas, maiores quantidades de livros. O projeto precisa atingir 100% da meta para o livro ser publicado e distribuído pela editora. Todavia, os apoiadores têm a garantia de receber sua recompensa.
As recompensas contam ainda com marcadores exclusivos da obra, além de receberem a versão digital do livro para Kindle, que será disponibilizado somente quando o e-book estiver sendo comercializado pela editora, não respeitando o prazo do financiamento coletivo. Se você tem uma empresa e quer apoiar o lançamento do livro, tem duas possibilidades bem bacanas para quem gosta de projetos culturais. Você ainda divulga sua marca entre os leitores do livro e os internautas que interagem com a Cartola Editora.

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