“Porque você não usa uma roupa preta? Iria disfarçar um pouco.”
Para a gente poder entender um pouco dessas frases: é preciso emagrecer para ser linda? Somente o rosto é lindo, e o resto do nosso corpo? E a nossa beleza interior, não conta? Quanto as roupas, preciso somente usar roupas pretas, para disfarçar os meus braços, as minhas gorduras da barriga e das pernas? Porque eu iria disfarçar? Faz parte de mim, do meu corpo, da minha essência. Quem nunca ouviu tais frases, talvez não faça ideia do peso que cada uma dessas palavras carrega consigo.
Muitas questões podem ser levantadas quando se fala em padrões. Principalmente em padrões de beleza que são impostos pela sociedade, e pelas pessoas. Esses que mesmo que a gente não queira, existem. Mas porque as pessoas criaram em suas mentes que para ter beleza, é preciso ter bunda grande, peito grande e barriga sarada. E não tiro a razão de que não seja bonito, mas uma mulher com quilos a mais na balança, tem uma beleza a mais. A beleza do amor, do autoconhecimento, a beleza de saber cada curva do seu corpo, de ter inúmeros marcas pelo corpo, e cada estria tem o poder de contar uma história.
É como se o nosso corpo fosse uma poesia, e as nossas estrias formassem cada verso, cada celulite seria uma rima, cada curva uma nova estrofe. E há quem diga que o mais belo no corpo de uma mulher seja a barriga sarada, é porque ainda não teve a oportunidade de ler os encantos que estão por trás de cada verso dessa doce poesia.
Todos os processos de emagrecimento que já tive em minha vida foram por motivos de saúde, afinal as dores no joelho e a hipertensão fazem parte. Mas eu sim, já queria emagrecer por estética, por “pressão” da sociedade por um padrão previamente estabelecido. E essas tentativas nunca deram certo, porque não era eu, eu não estava pronta para esse processo. Se eu emagrecia: eu estava ficando uma pessoa ‘elegante’, ou estava doente. Se eu engordava: eu era desleixada.
Eu Jocasta, sempre tive problemas com meu corpo, sempre fui uma criança, uma adolescente e uma mulher gorda, acima do peso. Então, o bullying também se fez presente na minha vida durante grande parte. Muitos apelidos que surgiam, as vezes que fossem de forma carinhosa, não eram, sempre havia a maldade por trás. Lidava muito bem com os apelidos, ria junto e em algumas situações ajudava a fazer a piada. Como ria junto, as pessoas achavam que eu também estava lidando bem com isso, e continuavam com os insultos. Mas o que eu estava apenas fazendo era camuflando os meus sentimentos e me enganando. Até a situação fugir do controle e eu perceber que não era somente um apelido. Aquelas palavras me machucavam, me feriam por dentro, e com isso o meu psicológico também passou a ficar abalado, desenvolvendo a ansiedade.
Sempre dizem que quem fala esquece, mas quem escuta nunca esquece. Essa frase nunca fez tanto sentido na minha vida. Apanhar fisicamente e psicologicamente, machuca na hora, e vai machucar para o resto da vida, são marcas que ficam no nosso coração.
Pratiquei exercícios diários de me olhar no espelho, e olhar tudo o que há de bonito em meu corpo. Olhei todo ele, não me sabotei fingindo que o espelho não existe para não precisar me olhar. Não me sabotei dizendo que o exterior não é importante. O exterior é importante sim. É cada curva, cada, estria, cada celulite, cada sorriso, cada brilho no olhar. Tudo isso importa.
Se ame do jeito que você é, o padrão quem faz é você. Seja você. Você veio ao mundo assim, linda do seu jeito, com seus defeitos e qualidades. Eu sei que não é fácil, e nunca será. Vivemos uma guerra diária contra o espelho, contra o corpo, e a cada dia que nos olharmos e conseguirmos enxergar o que há de mais belo em nós, será uma batalha vencida. Pare de se julgar, de julgar outro, pare de achar que você é menos porque um vestido ficou justo e marcou a gordurinha que tu tem do lado.
Há quem diga que as maquiagens são para esconder as imperfeições, DISCORDO. A maquiagem jamais deve servir para esconder, mas sim para ressaltar a beleza que está no nosso olhar, na nossa boca, nas bochechas, no nosso rosto. Assim como roupa nenhuma serve para disfarçar e esconder o nosso corpo, ela deve servir para que saibamos mostrar as nossas curvas.
As redes sociais podem ser redes de apoio para várias pessoas que passam por situações de baixa autoestima, e de autoconhecimento. O mais importante é saber filtrar cada coisa. Vários perfis auxiliam as pessoas a se reconectarem, assim como o meu perfil (@jocastabrockmann), onde usei dele para que eu pudesse me autoconhecer e ainda poder auxiliar outras meninas, e mostrar que é possível sim se amar, do jeitinho que você é.
Já vim, assim como você que está lendo provavelmente, de várias tentativas frustradas de fazer dietas, de sofrer do efeito sanfona, de emagrecer e engordar, de não encontrar nenhuma roupa no armário que a agrade, pois marca a tal gordura. Já sofri com meu corpo, não querendo estar nele Eu também já me olhei no espelho e detestei o que vi. Hoje eu olho para ele, como meu amigo, e digo: QUE MULHER!
Jocasta Brockmann